
O Corpo diz muito sobre Você
A doença fala da pessoa, isso é profundamente simbólico dentro da psicanálise, pois ressoa com a ideia de que os sintomas físicos ou psíquicos não são meras disfunções orgânicas, mas expressões de conflitos inconscientes, histórias não elaboradas e emoções reprimidas. Na visão psicanalítica, especialmente na tradição freudiana e lacaniana, a doença é uma linguagem: o corpo ou o psiquismo "fala" quando a palavra falha.
1. O sintoma como linguagem do inconsciente
Freud já dizia que o sintoma é uma formação do inconsciente, um compromisso entre o desejo reprimido e a censura. Quando algo não pode ser dito, vivido ou aceito conscientemente, ele retorna disfarçado em forma de sintoma ? seja no corpo (somatização) ou na mente (neuroses, angústias, fobias).
Exemplo: uma pessoa que reprime um desejo de ruptura pode desenvolver crises de pânico sempre que se aproxima de mudanças ? o corpo reage ao que a mente evita.
2. O corpo como palco de conflitos
Na psicanálise, especialmente a psicossomática psicanalítica, entende-se que o corpo pode ser o lugar onde se encenam conflitos não simbolizados. Quando o sujeito não consegue elaborar psíquicamente suas vivências, o corpo pode "falar por ele".
Exemplo: Doenças autoimunes, dores crônicas, enxaquecas sem causa médica definida, podem ser vistas como expressões de angústias não verbalizadas.
3. Lacan: o sintoma como enigma
Lacan afirma que "o inconsciente é estruturado como uma linguagem". Assim, o sintoma é uma mensagem cifrada, um enigma que o sujeito deve decifrar. A doença, portanto, pode ser vista como uma tentativa falha de dizer algo que não encontrou outra via de expressão.
A pergunta lacaniana seria: "O que esse sintoma quer dizer de você?"
4. O sujeito da doença
A psicanálise se opõe à visão reducionista da medicina tradicional que trata a doença de forma impessoal. Para o analista, não há "doença", mas um sujeito em sofrimento. A questão não é "qual é a doença?", mas "quem é o sujeito que adoece?".
5. O tratamento: da escuta à simbolização
A cura, na psicanálise, não se dá por eliminar o sintoma, mas por permitir que o sujeito faça a travessia do sintoma à palavra, que simbolize sua dor, que encontre um novo modo de existir que não precise mais daquela doença como expressão.